Editoriais – FSP 15.06.09
Déficit de inteligência
Queda na produção de doutores exige esforço de autoridades federais e estaduais para reativar a busca por qualificação
UM ENIGMA ronda o sistema de pós-graduação no Brasil: por que caiu, a partir de 2004, o ritmo de aumento na formação de doutores? Nos primeiros anos da década, o número de teses de doutorado defendidas a cada ano crescia à taxa de 15%. Desde então, a média diminuiu para 6%, como revelou reportagem de Eduardo Geraque nesta Folha.
Em 2008, foram aprovados 10.711 novos doutores. Há duas décadas, esse número não passava de mil. Com a queda no ritmo, contudo, torna-se pouco provável alcançar a meta do Plano Nacional de Pós-Graduação de concluir 16 mil doutorados em 2010.
Apesar do esforço de qualificação acadêmica, a proporção de doutores por grupo de mil habitantes no Brasil segue medíocre: 0,6. Na Alemanha, por exemplo, são 30. Mesmo não figurando como único fator contribuinte, o nível geral de escolaridade contribui de modo decisivo para a capacidade de inovação do país.
Em 1989, o Brasil produzia o equivalente a 3% dos doutorados dos Estados Unidos. Essa proporção subiu até bater em 20% em 2003. Desde então, encontra-se estacionada.
Tal paralisia mantém o país em posição de desvantagem competitiva no mercado mundializado de produtos e serviços de alta tecnologia e maior valor agregado. A China, com PIB per capita 40% inferior, mas dez vezes mais pesquisadores em números absolutos, vende-nos eletroeletrônicos e compra produtos primários. O superávit a seu favor foi de US$ 3,6 bilhões no ano passado.
É provável que vários fatores concorram para a queda na taxa de produção de doutores, mas ainda não está claro quais e com que peso. Entre dirigentes de instituições de pesquisa paulistas corre a interpretação de que a raiz do fenômeno esteja na diminuição proporcional de verbas federais para o Estado, onde se concentra a pesquisa mais produtiva do país.
Se, há 15 anos, metade das verbas de fomento de órgãos como Capes e CNPq fluía para São Paulo, hoje a fatia está abaixo de um terço. Formavam-se então nas universidades paulistas dois terços dos doutores do país, proporção reduzida a dois quintos.
Não é possível afirmar com segurança, porém, que esta seja a principal razão da desaceleração. Além disso, a disseminação da pesquisa por todo o território é objetivo legítimo e desejável da política científica e tecnológica.
Cabe investigar se o sistema de pós-graduação como um todo não se encontra saturado. O número de programas e vagas sofreu uma pequena explosão, mas não o de orientadores qualificados e credenciados, que foi de 32 mil a 35 mil desde 2003.
O enigma está aí para ser decifrado. Em lugar de entregar-se a uma contraproducente disputa com motivação político-partidária, autoridades federais e paulistas do setor deveriam unir esforços para diagnosticar e reverter a tendência decrescente.
Nenhum dos lados detém meios suficientes para produzir toda a inteligência de que o país necessita.
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